Associações e Entidades de Passos enfrentam dificuldades para retornar às atividades pós-pandemia

ASSOCIAÇÃOENTIDADEPÓS-PANDEMIA

4/20/2023

Foto: Alin Luna/Unsplash

Uma pesquisa realizada pelo Instituto de Pesquisas DataFolha, em parceria com a empresa Ambev, em dezembro de 2020, apontava que metade das Instituições do Terceiro Setor do país enfrentariam dificuldades para se manter em tempos pós-pandemia, que à época estava em seu auge. Instituições ou entidades de Terceiro Setor se caracterizam por atuar de modo voluntário e contributivo, para a promoção de saúde, educação, atividades culturais, bem-estar humano e animal, melhoria e preservação de meio ambiente e patrimônio histórico, direitos difusos e coletivos, entre outras atividades de natureza semelhante, na sociedade brasileira contemporânea. Apesar de o levantamento ter sido realizado há três anos, os reflexos da pesquisa ainda podem ser observados na atualidade, em 2023.

Entre as principais dificuldades apontadas está a falta de apoiadores financeiros (41%), doações de materiais e equipamentos (13%) e de voluntários para ajudar as ONGs a se reerguerem (11%). Esse cenário pode ser observado localmente, como na Associação REVVER, que trabalha com e por pessoas com deficiência visual na cidade de Passos, Minas Gerais.

Ativa desde 2008, durante a pandemia de COVID-19, a instituição teve que interromper suas atividades devido ao distanciamento social. A Associação voltou à ativa apenas em 2022, quando os casos de coronavírus diminuíram no município, bem como quando começaram as vacinações de forma mais ampla, o que ajudou no controle da doença. Ainda assim, a REVVER enfrenta dificuldades em captação financeira, sobretudo por conta de falta de meios e processos adequados para divulgação e comunicação de seus trabalhos e afins.

Segundo Alaor Carlos Rodart, co-fundador da REVVER, outra grande dificuldade está no custeio do transporte para as pessoas participarem dos encontros quinzenais na sede da Instituição. Ele nos conta que de 2008 a 2020 havia auxílio da prefeitura, que disponibilizava o transporte público para as pessoas com deficiência visual. “Elas necessitam de um acompanhante, e o auxílio não custeia a passagem desses acompanhantes. Por isso, fica inviável para algumas pessoas frequentarem as atividades da instituição”, contou. Além disso, os encontros estão sendo realizados de 15 em 15 dias (antes eram semanais), justamente porque os participantes estão pagando do próprio bolso a locomoção até a Instituição.

Sobre os recursos financeiros da REVVER, Alaor enfatizou: “não temos nenhuma fonte de renda com a qual podemos contar de maneira sólida e regular. Os recursos que nós temos da diretoria, do tesoureiro, que coordena essa parte do financeiro, são de doações que estamos recebendo”. Dessa forma, para captar fundos, a associação está promovendo uma rifa pela Loteria Federal no valor de 5 reais. Caso todos os bilhetes sejam vendidos, serão arrecadados cerca de 5 mil reais para cobrir as despesas da instituição. O sorteio será realizado no dia 10 de maio.

O impacto da pandemia

A pandemia da COVID-19 também afetou o funcionamento do Centro de Referência Especializado para População de Rua, o Centro Pop. Durante o período de distanciamento social, a Instituição teve suas atividades reduzidas, revezamento de equipe e foi montado um abrigo provisório para atender os usuários. Por ser considerado um serviço essencial, houve a readaptação do funcionamento da instituição. No entanto, em virtude da crise sanitária que se instaurou em todo o mundo, o número de pessoas em situação de rua teve drástico aumento.

De acordo com dados do sistema utilizado para controle no Centro Pop, atualmente, em Passos, são cerca de 107 pessoas em situação de rua. No entanto, apenas 40 são frequentes no Centro e recebem ajuda do município. Segundo Carlos Henrique Lau, assistente social e técnico de referência do Sistema Especializado em Abordagem Social, existe um desafio em manter a assistência para esses participantes. “O grande desafio em dar continuidade a um acompanhamento contínuo é a não adesão de alguns, apesar disso, tivemos alguns usuários que conseguiram sair da situação de rua através das intervenções realizadas pela equipe”, afirmou.

Em 2019, cerca de 729 atendimentos foram realizados pelo CRAS (Centro de Referência da Assistência Social) e Centro Pop. Já em 2022, este número aumentou, sendo feitos 3.799 atendimentos. Apesar de o sistema integrar toda rede socioassistencial da cidade, ou seja, esses atendimentos podem ter sido realizados mais de uma vez para uma mesma pessoa, os números mostram aumento expressivo na assistência prestada a atendidos em situação de rua e outras desassistências assemelhadas.

Além de alguns participantes serem resistentes ao Centro Pop e não participarem das ações oferecidas pela instituição e prefeitura, há a dificuldade de encontrar voluntários. “Não possuímos parceria com nenhum projeto voluntário, aproveito o ensejo e deixo explícito que o Centro Pop está de portas abertas para novas parcerias. Acredito que os projetos sociais têm muito o que acrescentar na execução da política pública para população em situação de rua”, afirmou Carlos.

Projeto em parceria entre UEMG Passos e Fapemig contribui com comunicação de entidade filantrópicas

Em razão das muitas questões aqui relatadas, a Universidade do Estado de Minas Gerais, UEMG, Unidade Passos, está com um projeto que busca contribuir com a melhoria da inserção e comunicação dessas entidades na sociedade passense. Trata-se do projeto “Comunicação e Sociedade: ações técnico-científicas para autonomia profissional de entidades de terceiro setor". Com fomento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais – FAPEMIG, visa a contribuir na estruturação de técnicas, procedimentos e apontamentos para a melhoria da Comunicação Social de entidades filantrópicas e de terceiro setor.

O coordenador, Samuel Ponsoni, do projeto falou à reportagem sobre os principais pontos da proposta: “Pretende-se, nas entidades selecionadas, criar ações de divulgação, captação e organização propagandística, de cunho social; reportagens, entrevistas, manutenção e estruturação de mídias sociais, vídeos institucionais, entre outros; e, por fim, pretendemos fazer transferência de técnicas, processos e conhecimentos, com treinamentos, para que essas entidades tenham, a curto prazo, um retorno de circulação de suas marcas, demandas e necessidades e, a médio e longo prazo, capacidade de gerir, de forma autônoma, os processos técnicos de comunicação social necessários à sua inserção social enquanto marca, ideia, mensagem, informação, entre outros”.

O Projeto, a propósito, está em processo de captação de entidades que se enquadrem no perfil e no escopo de participação nas ações de ensino, pesquisa e extensão a serem realizadas. Aqueles que se interessarem pela proposta devem procurar as redes sociais do projeto @comunicacaosociedade ou escrever para o e-mail: comunicacaoesociedade23@gmail.com

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